Dor, felicidade e o sentido da vida

A vida é longa e, por isso, as pessoas erram algumas vezes, têm muitas alegrias e tristezas. Em algum momento, o conceito de morte vem à tona conforme se vive todas essas experiências. Essa noção de limite faz as pessoas refletirem sobre o futuro da própria vida. A idéia de morte, única certeza da vida tida no ditado popular, diminui a energia de se viver. A morte deprime, pois nada que se faça trará alegria de tal maneira a compensar a tristeza da morte de alguém estimado ou a própria. E, nisto, penso que existem duas escolhas de vida. A distração ou o sentido da vida.

A primeira é a idéia da distração para uma vida alegre e cheia de diversão na qual equivocadamente não haveria problemas ou preocupações. Somente há a  vida para ser vivida na qual o tempo passa despercebido. Um estilo de vida na qual as pessoas desejam voltar àquele momento de prazer e alívio quantas vezes forem necessárias. Mas há um elemento oculto nesta situação porque, na realidade, não são as pessoas que escolhem a distração, mas é própria distração que escolhe as pessoas. Pois se trata duma espécie de pílula disponível a todo momento e, ao ser consumida, dá livre acesso a quantidades enormes de distrações que resultam na fuga da realidade que a vida traz.

Há uma característica básica desta forma de alívio e prazer. Se o tempo passa despercebido e a pessoa está distraída é porque, de alguma forma, a censura desaparece. Não há mais noção de limites e obrigações e, diga-se que, a busca pela diversão poderá ser invariavelmente atrapalhada por outras pessoas. E o máximo de prazer que se pode alcançar se dará somente se a distração for sozinha. A distração é muito tentadora, mas afasta a pessoa da segunda forma de vida que se baseia na proposta da satisfação, da felicidade e daquilo que verdadeiramente se luta para conseguir.

A escolha consciente do sentido da vida é a segunda possibilidade, que significa encontrar uma proposta ou razão para se viver. Quando se opta pelo sentido da vida começa a busca sobre qual será a melhor razão capaz de oferecer a motivação e satisfação para a vida ou mesmo na tentativa de se viver a proposta escolhida. A escolha não é distração porque a proposta de vida faz a pessoa acreditar que o modo de agir numa determinada forma, independentemente dos obstáculos, contribuirá para o alcance do objetivo. Neste momento, a pessoa se dá conta que não se pode dar sentido à vida sem levar em consideração aqueles à sua volta. Até porque, numa floresta, as pessoas, claramente, preferem a companhia do que a solidão.

O sentido que uma pessoa dá para sua vida está diretamente ligado àqueles que o cercam pois não são quaisquer pessoas, mas todas com qualificação afetiva. Isto está relacionado com família porque todo o processo de felicidade, da proposta para o sentido da vida ou mesmo a distração, está diretamente ligado ao que os pais pensam a respeito de um filho que, às vezes nem nasceu ainda, e qual o lugar que os filhos irão ocupar e o que os pais vão fazer a respeito disso. Quando se é pequeno e sem noção alguma da vida, não se sabe que o lugar ocupado por cada um de nós e os estímulos recebidos são conectados aos pensamentos dos pais sobre como deveria ser a vida dos filhos.

A satisfação na vida, portanto, passa pelo reconhecimento e avaliação das pessoas em relação à determinada escolha. A família tem papel fundamental neste teor de satisfação. É conhecimento deste grau de satisfação que possibilita substituir a distração a qualquer custo pela busca do sentido da vida. Pode-se dizer que satisfação é semelhante a felicidade. Esta se insere no convívio com as pessoas as quais são estimadas e no bem-estar com elas e a proposta de vida. Não há felicidade na distração, apenas alegria. E quanto mais eufórica for a distração menos se percebe o tempo passar, os perigos da vida, bem como aparentemente menores serão os limites, a morte e o sofrimento. Por outro lado, a distração sempre tende a acabar rápido porque a vida se impõe, a realidade se impõe em todos os seus níveis e a vida é longa.

O sentido da vida também passa por sofrimento, luta e por ações nas quais se tenha a noção de tempo. É como regar um terreno sem saber se uma planta nascerá saudável. Um hábito, uma disciplina e rotina em que ficará satisfeito ao ver a planta nascer quando nada poderia ter vingado ali. Satisfação pode ser compreendida como um ato de amor, não como prazer. Logo, existem duas escolhas. A pessoa pode viver uma vida de distrações ou escolher um objetivo a ser alcançado. São duas situações totalmente diversas e, diga-se, que com dois neurotransmissores diferentes no cérebro humano. A alegria da distração está com a dopamina e a satisfação com a endorfina. As duas podem até ser compradas no supermercado e, quimicamente, pode-se chegar a essas emoções sem fazer nada. Mas será um resultado, na prática, sem mérito e tampouco felicidade ou satisfação.

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