Desafios da mulher na recuperação da dependência química
Ao contrário do pensamento arraigado nos meios de convívio social, os fatores predominantes para alguém se tornar dependente químico estão relacionados à genética. Cerca de 60% das situações de dependência química ocorrem a partir de uma pré-disposição genética, não necessariamente hereditária, que será desenvolvida a partir do uso e abuso de determinadas substâncias como álcool e drogas. Os demais casos, aproximadamente 40%, ocorrem por variados fatores sociais externos ao indivíduo que acredita nas drogas como única saída aos problemas do dia a dia. Mas após trinta anos de experiência com tratamentos de dependência química, vícios e outras compulsões, é importante compartilhar pontos de vista necessários para se lidar com tais questões de saúde.
E a maior ocorrência da dependência química entre homens que mulheres nos casos que atendi está entre as particularidades. A grosso modo, para cada dez pacientes em tratamento, sete são homens e três são mulheres. Tenho discutido com minha equipe de trabalho as hipóteses em torno desta diferença e uma possível resposta talvez seja encontrada nos fatores sociais como desestímulo ao uso e abuso de álcool e drogas por mulheres. É pertinente dizer que aparentemente, numa sociedade machista, uma mulher dependente química, viciada ou compulsiva é vista socialmente muito pior do que o homem dependente químico, viciado ou compulsivo.
Mas a dependência química acarreta em conseqüências muito mais graves para a mulher. O índice de reabilitação das mulheres não se compara com as taxas de recuperação masculina. Até ousa-se dizer que a reabilitação feminina é praticamente nula, pois o tratamento da mulher é mais difícil e exigente. É muito complicado para as pacientes romperem com as situações sociais que influenciam na dependência química e, quando o fazem, fica evidente a pré-disposição genética naquelas que não se reabilitam. Quadro que ocorre independente da faixa etária da mulher dependente química.
Na prática, a vivência da droga e a energia química do processo é muito maior que qualquer outro valor social, ético ou moral. E, sem dúvidas, um dos caminhos para a reabilitação, masculina e feminina, passa por entender que a droga apenas oferece uma falsa sensação de bem estar. Como se a vida tivesse melhorado em diferentes níveis, se a capacidade em tomar decisões fosse mais criativa e, até mesmo, deixar de temer a morte. Não há mais racionalidade nesse momento, pois a química da substância é muito mais forte. Portanto, os pacientes lidam com essas questões a todo momento. O cerne é que a pessoa precisa escolher as melhores formas de enfrentar a dependência química e de não ultrapassar determinados limites para não cair no uso e abuso de drogas.
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!